Agende por Whatsapp: +11 96917-0390

Muitos veem a medicina como uma área fundamentalmente humana, baseada na interação entre médico e paciente, no estudo de processos biológicos humanos, e no instinto social da espécie, a fim de cuidar da sua comunidade. É verdade que todos esses fatores são extremamente importantes para a identidade da área médica, mas também é essencial ressaltar o papel do progresso tecnológico para a área.

Essa ligação entre a medicina e a tecnologia pode ser ilustrada facilmente pela história do tratamento do diabetes. Nesta postagem, será abordada a história da Insulina como medicamento e, na seguinte, serão abordados outros recursos tecnológicos que hoje são usados para melhorar a qualidade de vida de milhões de diabéticos ao redor do mundo. 

O diabetes é tão antigo quanto a civilização humana. Desde o Egito antigo, há mais de 3500 anos, há relatos de condições clínicas condizentes com o que hoje chamamos de diabetes. A antiga civilização da Índia já fazia a distinção de dois tipos diferentes da doença – uma congênita e outra de aparição na vida adulta. Um consenso entre esses antigos relatos, porém, era a baixa expectativa de vida dos pacientes.

Só começou a haver verdadeiros passos em direção ao tratamento da doença a partir do século XIX, quando se começou a usar a química como ferramenta diagnóstica. Foi utilizando técnicas químicas que o químico francês Michel Chevreul demonstrou que a doçura atribuída à urina de diabéticos era realmente devido à presença de glicose. 

Foi apenas em 1889 que foi demonstrado o papel do pâncreas na doença. Em 1909, George Zuelzer administrou extrato pancreático em alguns pacientes diabéticos e mostrou resultados promissores. A continuação das pesquisas nessa linha é que levou Banting e Best, em 1921, a finalmente conseguir isolar o composto que hoje chamamos insulina, com a ajuda de um químico, James Collip.

Apesar da descoberta da insulina e da demonstração de que sua administração para vários pacientes diabéticos era fundamental, ainda havia um enorme problema: como obtê-la. Durante boa parte do século XX, toda a insulina usada para o tratamento do diabetes era extraída de suínos e bovinos, o que causava uma série de problemas alérgicos nos pacientes. Apenas nos anos 50 é que se demonstraram as diferenças entre a insulina humana e a insulina extraída desses animais, por meio de diversas técnicas químicas e biológicas.

Em 1978, graças a grandes avanços em técnicas de engenharia genética, conseguiu-se introduzir o gene humano de produção de insulina em bactérias do tipo E. Coli, o que permitiu a extração em larga escala de insulina idêntica à humana, que começou a ser vendida comercialmente em 1982.

Paralelamente ao aprimoramento da insulina disponível comercialmente, foram sendo desenvolvidos melhores aparelhos para a sua administração. Inicialmente, eram usadas grandes seringas com agulhas grossas, que deveriam ser fervidas antes de cada uso, para garantir a sua esterilização. Seringas descartáveis ou com agulhas removíveis só foram aparecer nos anos 60, e continuaram a ser aprimoradas, com agulhas mais finas, reduzindo dor, e com menor esforço necessário para aplicação.

Mas as seringas sempre tiveram diversas desvantagens, como imprecisão na dose e dificuldade de aplicar o medicamento diversas vezes ao dia. Por isso, em meados dos anos 80, surgiram as primeiras canetas de insulina, tanto reutilizáveis quanto descartáveis. Elas possuem todo um mecanismo que administra uma dose exata por aplicação, reduzindo erros, além de serem mais discretas e terem melhor custo benefício.

Hoje em dia, existem canetas de insulina extremamente tecnológicas, com registro de dose e horário de aplicações anteriores, conexão via Bluetooth com computadores ou telefones celulares e maior possibilidade de seleção de doses, e continua a haver o desenvolvimento de diversas novas funcionalidades, como compartilhamento de doses com outros dispositivos, permitindo uma interação direta com o médico.

Outro dispositivo desenvolvido simultaneamente à caneta é a bomba de insulina, usada principalmente em pacientes com diabetes tipo 1. As primeiras bombas, desenvolvidas na década de 70, eram tão grandes que precisavam ser carregadas como uma mochila. Devido a uma série de desenvolvimentos em eletrônica, as bombas ficaram progressivamente menores e começaram a se popularizar na década de 90.

Assim como as canetas, as bombas de hoje são extremamente tecnológicas, com alarmes, interfaces de usuário, e calculadoras que determinam a dose precisa de insulina com base na glicemia medida em tempo real, funcionalidade cada vez mais semelhante à de um pâncreas normal. Também foram desenvolvidos outros tipos de bombas, com menor risco de vazamento ou com maior portabilidade.

De forma geral, a medicina é inseparável dos avanços tecnológicos. Foram esses avanços que permitiram primeiro determinar a causa exata do diabetes e, a seguir, construir diversos aparelhos mecânicos e eletrônicos para auxiliar no seu tratamento. E são esses avanços que continuam melhorando cada vez mais a qualidade de vida de diabéticos mundo afora. 

Referências:

Reserachgate.net

Link.springer.com

Diabetes.org