O sal é iodado no Brasil. Em virtude desse fato, nosso consumo diário de iodo costuma estar dentro das metas preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS):
- 90 mcg por dia para crianças de até 5 anos;
- 120 mcg por dia para crianças entre 6 e 12 anos;
- 150 mcg por dia para crianças ≥12 anos e adultos;
- 250 mcg por dia para gestantes e mulheres que estejam amamentando.
Entretanto, o consumo não tem estado na faixa adequada de forma consistente. Esse fato por ser decorrente do aumento de consumo de sais não iodados ou da redução da iodação do nosso sal, determinado em 2013. Até 2013, acrescentavam-se 20 a 60 mg de iodo por kg de sal; atualmente, essa quantidade é de 15 a 45 mg de iodo por kg de sal.
A população mais acometida pela deficiência na ingestão diária de iodo é a de mulheres grávidas, uma vez que elas precisam de maiores quantidades de iodo, o que pode não ser alcançado apenas através da alimentação.
Qual é a importância do iodo?
O iodo entra na composição dos hormônios tireoidianos (T4 e T3). Ele é encontrado, de forma natural, em peixes de água salgada e frutos do mar, em algumas águas de fontes ricas em iodo e em vegetais que sejam cultivados em solos ricos em iodo.
Além das fontes naturais, ele pode ser adicionado a alimentos (sal, farinha, etc).
O iodo consumido se junta ao iodo proveniente da destruição dos hormônios tireoidianos, constituindo o total de iodo do nosso corpo. Esse total será usado para fazer mais hormônio tireoidiano ou será excretado pela urina.
Tanto a falta quanto o excesso de iodo resultam em disfunção tireoidiana.
Como saber se alguém tem falta de iodo?
A avaliação da falta de iodo é feita pela quantificação da eliminação de iodo pela urina (iodúria). Determina-se que uma pessoa tenha um consumo suficiente de iodo quando ela tem uma concentração urinária de:
- 100 a 299 mcg/L para crianças e adultos (não grávidos);
- 150 a 249 mcg/L para mulheres grávidas
Por outro lado, define-se que uma pessoa tenha um consumo insuficiente em iodo quando apresentam concentrações urinárias como descritas abaixo:
- Deficiência leve de iodo: 50 a 99 mcg/L
- Deficiência moderada de iodo: 20 a 49 mcg/L
- Deficiência grave de iodo: < 20 mcg/L
Um consumo médio de iodo de 150 mcg corresponde a uma concentração urinária em torno de 100 mcg/L.
Quais são as consequências do consumo insuficiente de iodo?
Em adultos, a deficiência crônica de iodo pode acarretar:
- Bócio (aumento do tamanho da tireóide), que pode evoluir para bócio multinodular. Em pessoas mais idosas que tenham deficiência crônica de iodo, o volume da tireoide pode ficar bastante aumentado, podendo levar a compressão da traqueia e/ou do esôfago, com engasgos ou dificuldade respiratória.
- Hipertireoidismo: proveniente do bócio multinodular que pode desenvolver nódulos autônomos (que produzem hormônio sem controle do TSH – hormônio produzido pela hipófise e que controla a tireóide).
- Hipotireoidismo: a falta de iodo também pode acarretar diminuição da produção dos hormônios tireoidianos e, consequentemente, hipotireoidismo. Entretanto, o hipotireoidismo causado por deficiência crônica de iodo seja raro nos dias atuais.
A gestante precisa de uma quantidade maior de iodo, porque ela precisa produzir mais hormônios tireoidianos (T4). Até 12 semanas de gestação, o feto depende totalmente do hormônio tireoidiano proveniente da mãe; e esse hormônio é essencial para o desenvolvimento do sistema nervoso. A partir de 13 semanas, ele começa a produzir TSH e a concentrar iodo na tireoide. Entretanto, a produção fetal aumenta aos poucos e ele será totalmente autônomo na produção do hormônio tireoidiano por volta de 20 semanas de gestação. Deficiência importante de iodo na gravidez pode causar:
- Hipotireoidismo fetal
- Retardo mental: o retardo mental grave pode ser acompanhado de outros problemas, como surdez e problemas para andar, com rigidez muscular
- Baixa estatura
- Aumento de mortalidade, tanto neonatal quanto infantil
Nos Estados Unidos e no Canadá, há uma recomendação da Sociedade Americana de Tireoide para que se faça suplementação de iodo para mulheres grávidas e mulheres que estejam amamentando. Nesses países, a maioria das vitaminas usadas no pré-natal já contém a dose preconizada de suplementação de iodo.
Um estudo recente (2017) desenvolvido no Hospital das Clínicas da USP em São Paulo mostrou que 52,2% das gestantes tinham excreção urinária de iodo abaixo de 150 mcg/L, demonstrando que mais da metade das gestantes tinham deficiência de iodo.
Mas não é recomendável que as mulheres grávidas usem doses elevadas de iodo ou que o façam sem recomendação médica. O uso de doses altas de iodo na gestação (acima do recomendável), pode causar bócio no feto.
No caso de mulheres que façam uso de levotiroxina (hormônio tireoidiano), não há necessidade da suplementação adicional de iodo.
Medidas populacionais
É muito importante que as medidas de suplementação de iodo para a população através do sal ou de outros alimentos sejam estimuladas para que não aumentem novamente os problemas populacionais da carência crônica de iodo.
Sabemos que o excesso de consumo de iodo também é prejudicial para a saúde. Mas a deficiência é muito mais grave em termos das consequências individuais e populacionais.
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